
Através deste trabalho  pretendemos focalizar as questões que abarcam a Síndrome de Usher e suas  implicações educacionais. Esta Síndrome que é considerada atualmente a  principal síndrome óculo-auditiva conhecida, conseqüentemente a principal causa  de surdocegueira pós-lingüística no mundo. Não obstante a estas questões levantaremos  algumas atitudes, comportamento e adaptações que nós educadores devemos  conhecer para colaborarmos com o fortalecimento da confiança e independência  dos portadores desta síndrome, dando-lhe suporte para seu pleno desenvolvimento  no ambiente escolar-pedagógico. Tendo em vista que a Educação de pessoas  portadoras de deficiência vem ganhando destaque em nosso meio, tanto científico  - pedagógico quanto social, é de fundamental importância que saibamos detectar  precocemente, através de características únicas, as mais diversas problemáticas  que, como conseqüência, trazem em um futuro próximo, dificuldades, muitas vezes  de tal ordem que impossibilitam o desenvolvimento do indivíduo.
  
Não obstante a estes argumentos,  acreditamos que o caráter pedagógico que encerra a questão da pessoa portadora  de deficiência, não pode ser desvinculado da questão clínica - patológica de  sua deficiência. Este vínculo é importante a fim de conhecer as  "particularidades", das quais, muitas vezes, o indivíduo não pode  fugir, apenas adaptar-se a medida do possível e do necessário. Também este  vínculo é importante no momento de se proceder a avaliação pedagógica para  futuras intervenções. Assim, postulamos este projeto, tendo como referencial a  Síndrome de Usher. Síndrome esta, que para termos idéia, atinge cerca de 3% a  6% da população congenitamente surda ou parcialmente surda no mundo. Um jovem  com Síndrome de Usher tem várias necessidades. Se estas não forem encontradas  e/ou percebidas precocemente, provavelmente este indivíduo apresentará  dificuldades de ajustamento, entre outras problemáticas.
Contudo, um jovem cuja surdez é  causada pela Síndrome de Usher irá desenvolver uma condição chamada Retinose  Pigmentar, que afeta a visão. Esta condição é caracterizada por pobre adaptação  ao escuro e perda de campo visual. Desta forma, pessoas que tem Síndrome de  Usher irão ter dificuldades para enfrentar o modo de vida que a Retinose  Pigmentar impõe, principalmente no que se refere à sociabilidade e educação,  atributos indispensáveis que temos a responsabilidade de mediar para um  satisfatório desenvolvimento do indivíduo.
Retinose Pigmentar (RP), o que  é?
A Retinose Pigmentar refere-se a  um grupo de enfermidades degenerativas e hereditárias da retina. Esta é uma das  capas da parte porterior do olho. Nela estão as células chamadas cones e  bastonetes, com as quais podemos ver as cores e na obscuridade.
Os primeiros Sintomas da RP 
Os primeiros sintomas e a idade  de surgimento estão ligadas à forma genética da RP. Estas formas genéticas são: 
RP - AD : os sintomas podem  aparecer entre os 16 e os 35 anos de idade; 
RP - AR : podem aparecer entre os  8 e 15 anos de idade; 
RP - RLX : podem aparecer antes  dos 15 anos de idade. 
Os primeiros sintomas podem ser: 
· acuidade visual diminuída;
· nictalopia; 
· miopia; 
· restrições no campo visual -  perda da visão periférica. 
A Síndrome de Usher (US) 
A US é uma enfermidade genética  em que associam-se RP e surdez neurosensorial congênita. Descrita pelo Dr.  Charles Usher em 1914, é considerada hoje como a primeira causa de  surdocegueira pós linguística no mundo. 
A Síndrome de Usher (US) e  seus Tipos: 
US1 - Surdez congênita profunda  com sintomas de RP que se manifestam antes da adolescência em 90% dos casos.  Apresentam problemas de equilíbrio. 
US2 - Perda moderada à severa de  audição, congênita, com sintomas de RP que se manifestam depois da adolescência  em 10% dos casos. Não apresentam problemas de equilíbrio. 
US3 - Perda progressiva de  audição perceptiva com sintomas de RP que se manifestam antes da adolescência,  mas os casos são muito raros. 
US4 - Igual à US2, porém com uma  herança ligada ao sexo, afetando só filhos homens. Casos muito raros. 
Sintomas da Síndrome de Usher  (US) 
Em geral, os sintomas encontrados  na US são: 
Alterações audiológicas e  vestibulares:
· Problemas para aquisição da  linguagem; 
· Surdez;
· Alterações no equilíbrio é  própria da US2; 
· Atraso no desenvolvimento  psicomotor. 
Alterações visuais:
· acuidade diminuída;
· miopia e glaucoma;
· nictalopia; 
· perda de visão periférica; 
· visão em tubo
Os sintomas da Síndrome de Usher  podem ser melhor compreendidos analisando o paralelo entre a visão normal e a  visão Usher exemplificado pela fig.1. 

     Fig.1 
    
    fig.2 
      Como se Herda a Síndrome de  Usher (US) 
      
  A herança é autossômica recessiva:  25% de chances de transmissão. 
      
      A Freqüência da Síndrome de  Usher (US) 
      
  Acredita-se que a US é a mais  importante síndrome óculo-auditiva conhecida e a principal causa de  surdocegueira pós-linguística no mundo. 
      
  Sua freqüência varia entre 1.0 e  31.7%, sendo a mais alta encontrada na população surda de Lousiana - EUA. 
      
      Prevenção da Síndrome de Usher  (US) 
      
  Como ainda não se conhece a  etiologia, não há cura para a US. Deve-se, porém, depois da confirmação do  diagnóstico da US, encaminhar o portador a um serviço de apoio psicológico para  trabalhar a aceitação de outro canal sensorial e pedagógico especializado.  Através deste novo canal sensorial, trabalhar-se-á meio de comunicação  alternativos. 
      
      Como Identificar a US 
      
      O que nós Educadores  precisamos prestar atenção:
      
  - A criança que no escuro se  pendura em você ou procura um corrimão para se apoiar; 
  - Dificuldade em seguir um objeto  em movimento; 
  - Dor de cabeça e olho irritado  depois de exposição à luz do sol ou luz muito brilhante; 
  - A criança que é muito mais  desajeitada que as outras na classe; 
  - A criança que tem freqüentes  acidentes; 
  - Crianças com pouco equilíbrio; 
  - Criança que anda com os pés  virados para fora-passo lento e rastejante. 
      
  Sugestões úteis depois do  diagnóstico 
      
  - Aprenda sempre mais sobre a RP  e US e a maneira particular de como afetam seu aluno; 
  - Seja observador no que se  refere-se a leitura, ao movimento, e as relações gerais de seu aluno para com o  ambiente; 
      
  Converse com seu aluno e pergunte  o que ele necessita; 
      
  Busque saber a respeito da luz  (sentar perto da janela com esta a suas costas; iluminação extra em sua  classe); pergunte se a iluminação esta incomodando; 
      
  Destaque os esportes e atividades  nas quais seu aluno pode se sair bem; escolha os que não dependem da visão lateral; 
      
  Contribua para que seu aluno e  sua família pensem realisticamente o futuro. 
      
  Sugestões referentes a  comunicação 
      
  - manter a luz na direção de quem  fala; 
  - manter-se na linha de visão; 
  - não mover-se muito, e ao usar  gestos manter as mãos a altura do rosto se ainda faz LOF e ao nível do peito se  não o faz; 
  - busque o máximo contraste no  quadro de giz; separe com cuidado as palavras, tente evitar as letras em  script, pois é difícil para o portador de US ler o contorno das letras; 
  - usar um pontador para  direcionar os olhos do estudante. 
      
      Comunicação em língua de  sinais 
      
  - manter os sinais dentro do  campo de visão do aluno; 
  - manter o mínimo de alfabeto  manual; 
  - usar sinais falando  normalmente; 
  - manter claro os sinais e  sentenças; 
  - mantenha uma distancia  confortável (4 a  5 pés e  razoável). 
  - busque conhecer e desenvolver  formas aumentativas de comunicação como o alfabeto manual (dactilologico), a  escrita na mão (international Standard Manual Alphabet), etc. 
      
      Conclusão 
      
  Através deste trabalho, buscamos  estender o conhecimento sobre a Síndrome de Usher, não só em seus aspectos  clínicos, mas também pedagógicos, estes que estão mais próximos de nosso  cotidiano. Postulamos algumas sugestões, diga-se de passagem, não são as  únicas, que podem ser úteis a nós educadores tanto para um reconhecimento em  sala de aula desta problemática, quanto referente a nosso comportamento  posterior ao diagnóstico da Síndrome de Usher. Enfim, buscamos com este artigo  aproximar um pouco mais as questões clinicas e pedagógicas, assim como  aproximar nossa atuação, vezes distantes, das características e necessidades de  nosso aluno.
      
      REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS 
      
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