Uma das tarefas mais difíceis que encontramos em nossa convivência com a Surdocegueira, com os relatos a nós transmitidos, com as experiências por nós partilhadas com educadores mais experientes, foi a de diagnosticar um Surdocego pré-simbólico, mais precisamente uma criança Surdacega pré-simbólica. Mas por que este diagnóstico foi e continua sendo bastante complexo?
Em primeiro lugar, porque a população Surdacega é extremamente variada e complicada. A composição de um grupo de crianças num programa educacional para Surdocegos é muito pequena e heterogênea em comparação com crianças participando de programas para surdos ou para cegos.
De acordo com a definição mundialmente aceita de Surdocegueira podemos considerar a criança Surdacega como:
As crianças que têm deficiências auditivas e visuais e cuja combinação resulta em problemas tão severos de comunicação e outros problemas de desenvolvimento e educação que elas não podem ser integradas em programas educacionais especiais exclusivo para deficientes auditivos ou para deficientes visuais. (Center and Services for Deafblind Children, 1973)
As crianças Surdacegas têm deficiências auditivas e visuais numa imensa gama de combinações, ou seja, desde totalmente surdas ou totalmente cegas a deficientes auditivas (que apresenta restos auditivos, não sendo totalmente surdas) e parcialmente cegas, além de uma grande variedade de anormalidades físicas adicionais, idades variadas em que começam a receber atendimento adequado, variedade de níveis de desenvolvimento, de inteligência e de distúrbios de aprendizagem.
Os problemas de educação nestas crianças severamente impedidas são extremamente graves e com freqüência elas continuam funcionando numa etapa pré-simbólica devido ao déficit auditivo que impede severamente o desenvolvimento da linguagem tanto receptiva quanto expressiva. O déficit visual que apresenta limitada sua exploração e o desenvolvimento de conceitos. O déficit cognitivo atrasa seu pensamento representacional. O déficit motor-oral pode ter repercussões na inteligibilidade da fala. O déficit nas destrezas motoras finas e grossas pode repercutir nos gestos naturais e o déficit no desenvolvimento sócio-emocional pode reduzir ou até mesmo eliminar a necessidade de uma linguagem pragmática ou social.
Dessa forma, “a perda visual e auditiva não tem um efeito adicional sobre o desenvolvimento e a educação da criança Surdacega, mas sim um efeito multiplicador.
Pode-se perceber com estas questões que um Surdocego pré-simbólico possui vários porém. No entanto, o problema fundamental no trabalho com as crianças Surdacegas é conseguir uma educação adequada a elas. Porque problema? A Educação de Surdocegos Pré-simbólicos, para ter êxito e refletido este êxito em sua melhor qualidade de vida, deve ser centrada na individualização e especificidade de todo o processo, ou seja, todo o desenrolar de ensino-aprendizado deve acontecer em ambientes altamente estruturados – estrutura esta relacionada à metodologia especifica. Obviamente que toda esta estrutura, apesar de complexa – complexa com relação ao nosso cotidiano político-estrutural da educação especial brasileira – é possível de se organizar e desenvolver plenamente um programa para esta população em qualquer ambiente, desde que haja vontade e determinação para que isso ocorra.