Colegas. Já refleti neste mesmo espaço momento marcante em minha vida. Escrevi "Desde este momento percebi que teria que ter mais atitude". Para quem acompanha a Reação vai lembrar. Agora, pretendo reflexionar outro fato marcante. Estes geralmente acontecem quando somos adolescentes e estamos construindo nossa identidade e para mim, pessoa surdocega, não foi diferente. Este momento marcou o nascimento de minha identidade de ativista, de eterno inconformado, de eterno incompleto. Estava eu no ensino médio e na escola onde estudava erguia-se da terra uma majestosa árvore. Um Umbu de cem anos de idade. Estava ali imponente. Fincando por cem anos suas potentes raízes na terra. Este Umbu era o grande exemplo para todos os adolescentes da escola. Todos nós desejamos crescer e ser como o Umbu. Eu desejava muito isso. Será que um dia poderia ser forte como ele? Num belo dia chegou à notícia na escola que autoridades desejavam derrubar o Umbu. A natureza não o derrubou em cem anos e a mão humana iria fazer. Neste momento eu me senti definitivamente roubado. Iriam roubar nosso exemplo. Neste momento, indignado, me uni à professora de biologia, a mesma da reflexão "Desde este momento percebi que teria que ter mais atitude" e começamos a mobilizar os colegas, a escola, a comunidade. Não podemos e não vamos permitir que derrubem nosso exemplo. A partir de então fundamos o Clube Ecológico Umbu Centenário. Este clube foi o primeiro movimento ativista de que participei. Com garra nos abraçamos ao Umbu quando as serras estavam prontas para tombá-lo. E abraçados a ele permanecemos. As serras se calaram. Vencemos. O Umbu centenário até hoje está de pé. O Umbu e o Clube Ecológico Umbu Centenário ensinaram a mim algo que verdadeiramente construiu em mim a identidade que todos vocês já conhecem. Com eles "aprendi a ser forte para que nada me derrote". As pessoas com deficiência devem sim aprender a serem fortes como o Umbu. Podemos sim fortalecer nossa identidade cada vez mais. Negar o que nos ameaça. Rebelar-nos contra a opressão. Sermos inconformados com o que nos apresentam. Eu aprendi a ser forte para que nada me derrote e acima de tudo aprendi a ser eu para que ninguém esqueça.
Foto: Alex e os colegas do Clube Ecológico Umbu Centenário. Alex está agachado. Veste camisa lilás
Abraços e obrigado!
Alex Garcia
Pessoa Surdocega.